terça-feira, 22 de janeiro de 2008

In the fashion world


Minha última viagem foi dentro da cidade mesmo, mas foi para outro mundo. Um mundo onde as coisas funcionam de maneira completamente diferente. É o mundo fashion.
Onde todas as mulheres são gatas, acho que porque é mais fácil do que tentar lembrar o nome de todo mundo; onde o mais importante é o quão social você consegue ser usando suas características particulares, sejam elas físicas, de escolha de roupas, de trabalho ou de pessoas que você conhece.
Para entrar neste mundo, é preciso aprender novas gírias, as formas certas de falar as coisas, e como se comportar em cada ocasião.
Por mais que eu ache particularmente fácil me adaptar em quase qualquer lugar, já aviso: as regras não são tão fáceis de serem aprendidas.
Tem que olhar tudo com muita naturalidade, como se nada estivesse acontecendo a sua volta, mesmo se três homens vestidos de girafas estiverem passeando pelos corredores, pedindo beijos e abraços para as meninas ou qualquer outra coisa bizarra estiver acontecendo em alguma outra parte. E às vezes, é difícil segurar o olhar curioso ou de estranhamento, até porque tudo acontece num piscar de olhos e começa e acaba quando menos se espera. E para quem não pertence a essa realidade é como ser mergulhado numa lata de verniz, e logo em seguida numa lata de removedor.
É assim. Sempre, mesmo sem mudar de cidade, mesmo sem mudar de bairro, ainda temos que nos adaptar dia após dia, só porque mudamos de lugar.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Liberdade Absoluta


La Liberté de l'homme, c'est l'innocence.
Alcuin de York 730 - 804(?)

Não quero entrar em nenhuma grande discussão filosófica ou política a respeito do que é liberdade. Na verdade, quero contar uma história.
Uma história de um viajante, gringo, que está vivendo um momento de liberdade absoluta.
Mas isso porque ele está enfrentando a situação de uma maneira que o deixa assim, completamente livre.
Esse viajante começou sua jornada partindo da Europa em direção a America, deixando seu apartamento no centro de Amsterdam para conhecer um pouco do continente onde nasceu e viveu até os seis anos.
Começou pelo Brasil, onde passou pelo nordeste e aproveitou a virada do ano. Logo nos primeiros dias do ano, uma menina que estava no mesmo alberque que ele recebeu um telefonema dizendo que as coisas que ela havia deixado armazenadas num depósito na Holanda não existiam mais por conta de um incêndio.
Por aquelas coincidências do destino, o viajante sobre quem se trata esta história estava ao lado da referida menina quando a mesma recebeu a notícia.
E por uma coincidência ainda maior, o depósito em questão também fora utilizado pelo amigo viajante antes do início de sua jornada.
Resumo da ópera: absolutamente tudo o que ele possuía, a parte a mochila que ele carrega para sua viagem de nove meses, pegou fogo.
Todas as memórias, tudo de valor material que ele tinha não exitem mais. Desde aquele exato momento, esse viajante é não tem mais nada que o conecte fisicamente a lugar algum. Mais ou menos como uma tartaruga ou um caracol, que carrega a casa nas costas.
Mas não se enganem - ele protege sua mochila com unhas e dentes.
"That´s all I have left now. Well, that and the memories in my mind" - his own words.
Mas isso parecia não incomodá-lo muito. Pelo contrário.
Claro que ele se chateou com a perda, mas, bom, o que passou, passou e não há nada que possa ser feito a respeito.
Então, daqui para frente o que este amigo instantâneo está fazendo não é mais viajar. Ele está procurando um lugar para começar algo novo. Não sabe se volta para a Holanda. Não decidiu nada.
O mundo é muito grande e está de portas abertas para que ele possa escolher - ou não - um lugar para ficar. E até que ele, por opção, volte a se enlaçar em algum tipo de rotina, por mais louca que seja, ele experimenta um momento de liberdade absoluta. E de descompromisso com qualquer tipo de planejamento.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

The best for last


Fui para a Argentina para o aniversário de um amigo. Certamente comemoramos muito, talvez, mais do que deveríamos e menos do que gostaríamos.
Éramos um grupo enorme, num albergue cheio de gente, de forma que o grupo se tornava cada vez maior, com inclusões e exclusões diárias.
E viajando com um grupo grande assim, com tanta gente e tantas culturas diferentes e idéias diversas sobre educação, limite e vida, posso dizer que os primeiros dias foram bem complicados.
Não tiro a minha responsabidade neste processo de adaptação, até porque viajar com esse grupo não era a única coisa que acontecia na minha vida naquele momento.
Mas preciso dizer que por mais legais que todas as pessoas fossem e por mais que eu goste de conhecer gente e falar - quem me conhece sabe bem - eu vivo melhor em climas mais intimistas.
Sozinha, com mais uma pessoa ou com um pequeno grupo. Não mais do que isso.
Me angustia ter que me preocupar se estão todos bem, se todo mundo saiu da lojinha para continuar a caminhada, se não esquecemos de ninguém e essas outras coisas sobre as quais é preciso pensar quando se é responsável pela organização de alguma coisa.
Todo esse nariz de cera (nariz de cera: gíria jornalística para blá blá blá de introdução sobre um assunto no começo de um texto) serve para chegar aos últimos dois dias que tive em Buenos Aires.
Passei esse tempo mudandando de companhia, de outros viajantes sozinhos para no máximo duplas e foram dias fantásticos. Sem muito com o que me preocupar. A única coisa que não pude fazer foi ir ao meu jardim de rosas.
Mas, em compensação, conheci pessoas maravilhosas com quem terei sorte de manter contato por muito tempo e mais ainda, reencontrá-las em alguma outra parte do mundo!
Fiquei sem dormir para poder aproveitar cada segundo, caminhei o tempo todo, saí, vi o sol e a lua e a noite e o poente e a alvorada, tudo isso em muito boa companhia.
Vi as ruas que respiram tango e os clubes onde se dança salsa até o sol nascer. E só deixei tudo isso porque uma nova viagem estava me esperando. Mas falo dela depois.

sábado, 12 de janeiro de 2008

El dia que me quieras


El día que me quieras
endulzarán sus cuerdas
el pájaro cantor.
Florecerá la vida,
no existirá el dolor.

La noche que me quieras
desde el azul del cielo,
las estrellas celosas
nos mirarán pasar.
Y un rayo misterioso
hará nido en tu pelo.
Luciérnaga curiosa que verás
que eres mi consuelo.

Una cosa loca! Assim é a Argentina em geral e Buenos Aires em particular. Não dá para discutir futebol, nem churrasco. Porque, eu, particularmente, prefiro os cortes e o futebol brasileiro e acho que os argentinos são um pouco arrogantes demais quando se trata de um desses assuntos.
Mas, digamos assim, o marketing mundial deles ultrapassa o nível do nosso a perder de vista, tanto que, por exemplo, um dos restaurantes mais caros de carne de Buenos Aires é de um brasileiro, é overpriced e cheio de brasucas comendo lá.
Por mais que o Pelé seja o jogador do século, seria impossível comparar o carisma dele com o do Maradona. O homem faz e desfaz, pula em cima da cabeça de todo mundo, mas é o esportista mais amado do mundo. Não tem igual. Até na Itália.
Melhor então é tentar escolher entre a lascívia do samba e a carnalidade do tango. Acho que os brasileiros, nesto ponto, são muito mais diretos ao ponto. E os argentinos ainda mantém o oldfashion cavalheirismo. Pelo menos na dança.
A parte julgamentos, comparações e preconceitos, aproveito esse meu blog para dizer que Buenos Aires é uma das cidades mais lindas que eu conheço e que sempre vale a pena visitá-la.
Aqui, o argentinos são mesmo uns doces de pessoas, tratam todo mundo muito bem e quem vem não quer ir embora.
A maior briga é tentar adiar a passagem de volta, para aproveitar mais uns diazinhos, dar uma última passeadinha no Puerto Madero, ver a Casa Rosada mais uma vez, descansar em um dos parques de Palermo ou assistir aos casais de milongueiros nas ruas de San Telmo.
Quem acerta a data, aproveita para assistir ao clássico Boca x River na Bombonera.
Ainda tenho quatro dias aqui, e não fui ao meu lugar favorito. Estou guardando para um dia especial. O meu jardim de rosas.
Por outro lado, já me encontrei com as mães que tiveram seus filhos desaparecidos durante a ditadura e que todas as semanas ainda vão para a frente da Casa Rosada pedir para que as ajudem a encontrá-los, já almocei e já jantei em Puerto Madero, já dei um pulinho em San Telmo, e de resto tenho usado meu tempo aqui para descansar e caminhar ao léu.
Quantas vezes temos chance de fazer isso? Andar pela rua prestando atenção nas outras pessoas, em como elas andam, se estão tirando meleca do nariz, ou coçando a orelha, se estão sérias, sorrindo ou chorando. Esta é a minha chance. Just observing.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

domingo, 6 de janeiro de 2008

Superstições de ano novo



Espero que o ano novo de todo mundo tenha sido fantástico, que todo mundo tenha visto fogos maravilhosos, tomado muita champagne se divertido muito!
Passado com as pessoas que gosta num lugar lindo!
Comigo, posso dizer que as coisas não foram bem assim. Mas já me distanciei o suficiente, pelo menos para falar a respeito - sim, porque agora posso até falar!!!
Meu ano novo começou com contagem regressiva, numa casa maravilhosa, entre duas praias lindas, assistindo ao show de fogos e estourando Champagne Francesa.
Fiquei dançando por duas horas, com mais umas 30 pessoas que também comemoravam a virada do ano até que em certo momento um passo em falso levou meu rosto e mais especificamente a minha boca diretamente ao chão.
Digamos que uma dor enorme se abateu sobre mim. Definitivamente não se trata de um bom jeito de começar o ano. Com os lábios da Angelina Jolie, depois da alergia ao camarão, ou coisa parecida.
Minha noite acabou ali. E ainda tomou uma parte da noite de alguns amigos e do meu irmão a quem eu agradeço muito por terem tomado conta de mim.
O resto do pessoal, continuou até as 10h da manhã do dia seguinte. Alguns poucos, até mais.
Ainda estou com o roxinho no queixo e os machucados na boca. Mas a dor já é bem menor do que aquela que me acompanhou logo que acordei e comecei as rever as fotos que havia tirado na viagem.
Sem ainda perceber que não se tratava apenas de um acidente, mas sim de uma nuvem negra de azar, resolvi apagar aquelas fotos que sairam sem nada. Sem querer, acabei apagando todas as fotos do cartão.
Mas é claro, isso não seria suficiente. Imaginando que alguma coisa não estava muito bem, corri até a praia e fui pular minhas sete ondinhas. Me concentrei, e as pulei. Respirei fundo e pensei, agora estou pronta para começar o ano.
Não era verdade. Na saída da praia, consegui chutar muito forte uma pedra que estava escondida pela areia.
Voltei correndo para casa e fiquei deitada no sofá, assistindo televisão até que finalmente chegasse a meia-noite.
Depois disso, todas as pessoas que conheci me desejaram sorte, mesmo um irlandês disse que era um Leprechaun desfarçado.
Por enquanto, não aconteceu mais nada, mas continuo procurando figas, pés de coelho, ferraduras e o que mais puder me proteger, porque ainda tenho muitos lugares para ir este ano.