segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Minha primeira vez


Viajar sem sair do lugar. Essa é uma opção para os de poucos meios financeiros, os de pouco tempo disponível e os que simplesmente não conseguem manter os pés no chão. Oscilando entre os três grupos, é possível se desligar de tudo voltando para casa. É o fantástico mundo da imaginação, da invenção e da mentira. Mentira com licença poética, é claro.
Imagine, por exemplo, você, sentado no seu carro, parado num trânsito daqueles intermináveis. Pra onde quer que você olhe, há carros. Luzes vermelhas e amarelas e algumas poucas verdes. Tudo se move em câmera lenta. Essa é a hora para viajar. Sair do seu corpo e estar num outro lugar. Neste instante, a música é minha melhor companheira. Mas não qualquer música, não a que toca na rádio. Tem que ser a que me transporta. A trilha sonora de momentos da vida. Como se fosse um filme. Eu sou capaz de passar horas entre soltar a embreagem, pressionar o acelerador levemente e pisar no freio, sem nem perceber o que está acontecendo a minha volta, se a trilha sonora for boa.
Alguns objetos também são capazes de servir como ativadores da memória. Fotos, claro, pedaços de papel com mensagens... Mas a memória daquilo que já se viveu não é tão intensa como a projeção de algo que nunca se viu. As possibilidades são infinitas. É claro que um pouco de álcool e uma atmosfera propícia podem ajudar e muito.
Em poucas oportunidades consegui me encaixar nesse tipo de situação. Uma delas foi fumando narguilé (ou xicha). Minha primeira vez foi em Paris, mais especificamente, num café marroquinho numa ruazinha de Montmartre. Com três amigas italianas. Só de entrar ali, com a música, os cheiros, o chá de menta, de sentar nas almofadas... Não estávamos mais em Paris. Falamos muito pouco. Creio que estávamos todas em outro plano. A única outra mesa do lugar estava ocupada por um grupo de homens com bigodes, falando árabe muito rápido. E nós em silêncio.
Depois disso, fumei com uns amigos num bar em São Paulo, numa das minhas visitas à cidade. Mas o local era muito barulhento e não tinha clima. Ultimamente, tenho a sorte de ter um em casa. E de vez em quando nos juntamos para fumá-lo. Me desligo completamente de onde estou e vou para um outro lugar. É um pouco Alice no País das Maravilhas. Como a lagarta, que desde pequena sempre achei fascinante.
Melhor eu parar por aqui. Este texto já está virando uma viagem.

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